domingo, 13 de março de 2011

Quinquilharias do antigo blog parte... nem sei mais

O dia em que a cidade parou

Aquele foi um dia diferente, eu não tinha nada para fazer em casa, então resolvi dar uma volta na cidade. Tarde fria, o sol escondido, mas não era nublado, difícil de explicar.
Quando subi a rua da minha casa vi que algo estranho acontecia, os carros parados, os guardinhas e aqueles malditos apitos, buzinas insuportáveis, pessoas estressadas batendo com a cabeça na direção, davam até medo.
Isso era normal em cidades grandes, mas não aqui, uma cidade relativamente pequena onde o trânsito sempre foi tranqüilo e os guardinhas não usavam aqueles apitos desgraçados.
Logo que cheguei à rua principal, aquelas ruas onde grandes empresas logísticas têm uma filial em cada quarteirão com super ofertas e liquidações, tinham várias pessoas correndo entre os carros, as malditas buzinas soavam mais fortes, crianças perdidas dos pais, uma loucura.
Eu que não tava entendendo nada e já estava puto da cara com aquele barulho todo resolvi perguntar para alguém o que estava acontecendo.
Pedi para uma mulher gorda que estava sentada ao lado da carrocinha de pipoca e cheia de sacolas a sua volta.

-Hey senhora, tu sabes o que esta acontecendo nessa cidade?
-Na cidade?

Logo vi que ela sabia menos que eu, baita gorda imprestável, aposto que estava ali só porque o dono da carrocinha de pipocas tinha saído junto com os outros para pular em cima dos carros, assim ela podia comer sem pagar.
Resolvi continuar caminhando naquela rua, não tinha uma pessoa normal naquilo tudo, pela primeira vez na vida me senti o ser mais certo da cabeça que existia na Terra.
Virei a esquina e lá estava um ônibus trancando a rua, impossível a passagem de algum carro, fiquei só observando, no outro lado da rua tinha uma árvore caída e alguns cachorros correndo loucos atrás do rabo, fiquei observando, como poderiam ser tão burros? Nunca iam conseguir morder o próprio rabo, o certo seria morder o rabo dos outros, mas, assim se igualariam aos humanos que vivem querendo ver o outro se foder.
Mas voltando ao assunto da confusão que a cidade se encontrava, a cada rua era uma surpresa diferente, ninguém conseguia explicar o porquê de tudo aquilo.
Já não sabia mais nada, resolvi voltar para casa. Ascendi um cigarro e voltei pelo mesmo caminho.
O ônibus continuava lá parado, ninguém ia nem voltava só que dessa vez tinha algo diferente, as pessoas que estavam lá tinham sumido, parecia que o caos tinha passado, a cada rua que eu voltava o silêncio tomava conta, as ruas ficavam vazias.
Passei pela carrocinha de pipocas e não tinha nem a pipoca nem a gorda, no mínimo ela comeu tudo e foi embora.
Mas e os outros porque tinham sumido?
Na verdade ainda queria saber o que tinha acontecido antes, minha cabeça estava embaralhada demais, já não sabia por que tinha saído de casa.
Desci a rua de casa correndo, admito que estivesse com um pouco de medo, entrei correndo pela porta do prédio, nem sinal de vida naqueles malditos corredores compridos e escuros. Péssimo lugar para alguém viver, mal tinha luz, o sol não entrava direito pelas frestas, as janelas nunca abriam eram emperradas, mas era barato e eu não estava em condições de morar em outro lugar.
Entrei em casa me atirei no sofá, um sofá que tinha comprado em uma loja de móveis usados, liguei o som e fiquei lá fumando e pensando, mas não tinha como explicar a loucura que tinha acabado de ver. Pessoas enlouquecidas, a cidade no caos e simplesmente tudo parou do nada e eu estava sozinho na rua!
Minha cabeça girava, era engraçado demais, sabia que pessoas eram loucas mesmo, mas não ao ponto disso.
TUM...alguém estava batendo na porta.
Olhei pelo olho mágico, era o vizinho, desde que me mudei era o único amigo que aparecia no meu apartamento.
Ele era engraçado, tudo era motivo para ele filosofar, um cara totalmente fora de si, louco, bêbado e deslumbrado com algumas coisas alucinógenas , grande amigo.
Abri a porta e ele saltou para dentro.

-Você viu? você viu?
-Vi o que?
-As pessoas na rua, o negocio do fim do mundo, todos correndo enlouquecidos?
-Eu vi, mas, não entendi nada. Que historia é essa de fim de mundo?
-Deram na televisão, o fim do mundo esta chegando, eles falaram pra todos saírem de suas casas e aproveitarem seus últimos minutos de vida, não passaremos desta noite.
-Maldita mania de acreditar em historias da TV, será que são todos mais loucos do que eu imaginava?
Fim do mundo, grande merda essa besteira, amanhã iremos todos acordar felizes como se nada tivesse acontecido.

Só podia ser coisa de Brasileiro mesmo, acreditar o que os malucos da TV dizem. Pra variar meu amigo estava bêbado e eu não. Fiquei um tempo ali sentado, enquanto ele atacava a geladeira atrás de cervejas. Como poderiam acreditar naquilo, merda de fim do mundo, grande mentira tudo isso, mas se fosse verdade?
Resolvi sair comprar mais cervejas e wisky, se fosse o fim do mundo pelo menos eu morreria bêbado e não teria que acreditar que o homem se tornou tão manipulável ao ponto de se desesperar com toda essa besteira de fim de mundo. Não tinha ninguém na rua, entrei no mercadinho da esquina, peguei tudo o que eu queria e voltei para casa, meu sofá me esperava e o vizinho já tava caído por lá. Me acomodei no sofá, bebendo e escutando música, se fosse pra morrer morreria tranqüilo, até que adormeci.

O sol bateu fraco na minha cara, era dia e eu ainda estava vivo, ou melhor, achava que estava, fui até a janela e vi que a rua estava normal, pessoas andando nas calçadas, carros na rua e nada de ônibus parado no meio da rua.
Por um momento pensei nossa esses burrões ontem se matavam pelo fim do mundo, hoje voltam a se matar pra ter um pão para comer.
Sai na rua atrás de alguém que soubesse me dizer se eu estava vivo ou morto.
As pessoas andavam normais, pegavam ônibus, o transito calmo, os malditos apitos longe da visão dos guardas, um dia normal muito diferente do que tinha visto ontem.
Cheguei perto de um homem com chapéu de palha, roupa bem passada e um perfume insuportável.

-O senhor poderia me dizer o que está acontecendo?
-Nada.
-Mas e a correria de ontem? Aquela confusão toda?
-Não sei o que você esta falando.
Baixei a cabeça e entrei num café próximo da minha rua.
Sentei e pedi um café expresso duplo e forte e tentei pensar sobre toda locuragem que tinha sido o último dia.
Foi só então que eu não entendi mais nada daquela coisa toda, fiquei ali parado um tempo, tomei um grande gole amargo daquele expresso. Afinal mesmo que não fosse coisa da minha cabeça, as pessoas tinham que enfrentar o fim do mundo todos os dias e como eu não fazia nada voltei para casa e passei o resto do dia, bebendo e pensando que minhas alucinações estavam indo longe de mais e o pior é que eu tava começando a curtir isso.

Ana Ferraz

Um comentário:

isadora machado disse...

alguém lê isso daqui e gosta muito!