sexta-feira, 25 de março de 2011

Leminski

"Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima."

segunda-feira, 21 de março de 2011

Quinquilharias apenas


Pode ser eu?!


Ana Ferraz

Manhãs como essa, são as que me fazem feliz. Acordar, andar até a janela e ficar olhando para fora, sem conseguir enxergar muita coisa por causa da neblina, a fumaça do café quente e sem açúcar me lembram que nem tudo é doce e nem todo amargo é ruim. Não sei bem quando começou esse vício de acordar cedo nos dias frios, os melhores para ficar na cama dormindo até tarde, encher uma caneca de café forte sem açúcar e caminhar até a janela. Olhar para fora, sem rumo, sem enxergar muita coisa, a noite se despedindo e o dia timidamente aparecendo. Já faço isso há alguns meses, o frio insiste em aparecer por aqui na maior parte do ano, o que me deixa feliz, pois posso fazer esse ritual todos os dias. O gosto do café amargo me anima, como sempre depois do terceiro gole vou até a vitrola da sala e escolho um disco, acho que só o disco que não se repete com muita freqüência.
Hoje o dia amanheceu nublado, o céu cinza, o café quente, o disco rodando, tudo como sempre. Mas não me sinto muito feliz, a sensação de satisfação matinal não é o que estou sentindo agora, queria ter ficado na cama, dormir até tarde, acordar na hora de sair para o trabalho, tomar um banho, procurar um táxi e não achar nenhum, ficar esperando o metrô e chegar atrasado no escritório, como pessoas normais fazem.
O problema é que não trabalho em um escritório, tenho meu carro, mas prefiro andar de bicicleta e o pior de tudo, não tenho um chefe, muito menos um emprego. Eu vivo em uma cidade agitada, ando pelas ruas fotografando lugares, pessoas, paisagens. Quando preciso de dinheiro vendo algumas fotos, mas não gosto muito disso. Vejo muita gente, mas não me relaciono bem com as pessoas, dizem por aí que sou anti-social ou coisa assim, mas as pessoas também não se relacionam muito bem comigo. Tenho uma relação estranha com o mundo externo, por isso prefiro ficar aqui dentro, entre discos, fotografias, xícaras de café, livros e muitas folhas de papel jogadas pelos cantos. Gosto de escrever, mas nunca mostro pra ninguém, tem uma moça que vem aqui toda a semana fazer a faxina, eu falo bastante com ela, porque ela fala comigo.
O dia nasceu diferente, eu sei que alguma coisa aconteceu, sinto que hoje vou ter que falar com muita gente, isso está começando a me amedrontar, não sei o que fazer quando as pessoas falam comigo, todos me acham estranho demais. Daqui duas horas vou sair com a minha máquina para fotografar, hoje vou caminhando, estou cansado para pedalar, não tive uma noite muito boa e quase não preguei os olhos.
Bateram na porta agora, vieram me avisar que a moça que trabalha aqui morreu. Eu sabia que tinha um clima diferente no ar. Odeio velórios, vou ter que usar terno preto, o cemitério é muito longe não vou poder ir de bicicleta, meu carro está tapado de poeira e eu estou triste.
Acabei de voltar do velório, coitada da moça foi brutalmente assassinada, uma morte horrível. Tive que trocar algumas palavras com alguns vizinhos que também pagavam a moça para limpar suas casas, a maioria apenas me conhecia de vista, acho que só troquei comprimentos com alguns deles no elevador.
Mais uma xícara de café, ainda mais amargo. Vi muitos policiais no cemitério, um deles seguiu meu carro até aqui. Estou escutando um disco, sentado na janela apreciando a bela vista da cidade, sinto que a qualquer momento alguém vai bater na porta. Continuo triste, a única pessoa que falava comigo morreu e acho que o suspeito sou eu.

terça-feira, 15 de março de 2011

Quinquilharias de Allen Ginsberg

Ontem foi o dia da poesia!!!!!!!!


Arte é ilusão, pois eu não ajo

Fico ou Parto - com constante alegria
Meus pensamentos, embora céticos, são sagrados
Santa prece para o conhecimento ou puro fato.

Então enceno a esperança de que posso criar
Um mundo vivo em torno de meus olhos mortais
Um triste paraíso é o que imito
E anjos caídos cujas asas perdidas são suspiros.

Neste estado não mundano em que me movimento
Minha Fe e Esperança são diabólica moeda corrente
Em mundos falsificados, cunho pequenos donativos
Em torno de mim, e troco minha alma por amor.

(Allen Ginsberg)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Quinquilharias que vem antes de dormir

Abri a janela do quarto, a luz do sol quase me deixou cega. Depois de uma noite quase em claro minha cabeça ainda se perde um pouco no que realmente aconteceu e no que ainda faz parte de um sonho qualquer. Tem dias que é difícil sair da cama e enfrentar a rotina. Simplesmente eu cheguei lá e tinha muita coisa pra fazer mal consegui pensar, a vida foi sendo vivida e quando percebi a manhã já tinha ido e eu continuava num estado de não saber se minha cabeça já estava pensando ou ainda sonhava. Deitar e virar de um lado pro outro pensando como que minha vida seguiria daqui pra frente me deixou um pouco perdida, ainda não sei bem ao certo como fazer quando aquele sentimento estranho de não ter conseguido pela primeira vez na vida que as coisas fossem como eu queria não me deixar dormir de novo. É novo pra mim isso, mas parece que ultimamente é só o que eu tenho, frustrações atrás de frustrações, as vezes penso que a culpa é minha, não deveria nunca ter me entregado pra nada nem pra ninguém, desse jeito as coisas continuariam como sempre foram e permaneceriam no meu controle. Mas as coisas não foram e nem são assim, é preciso aprender que isso é um processo e que mesmo que tenha doído um pouco foi muito melhor do que seguir o resto da vida numa superficialidade, só que é fácil falar, quem vai fazer o meu inconsciente entender isso?
Quando a tarde chegou tudo estava um pouco mais calmo, eu precisei pensar em diversas coisas muito importantes e outro tipo de angústia tomou conta de mim por um tempo e eu quase nem pensava mais naquilo que tinha tirado o meu sono na noite anterior. Assim foi mais um dia, a noite já chegava e eu corria para terminar as ultimas coisas que precisavam ser feitas hoje, só conseguia pensar em chegar em casa. Acho que tem coisas que acontecem porque deve existir uma pre-disposição do sei lá o que pra acontecerem. Quando essas coisas acontecem a gente pode tirar uma medida de como lidamos com situações embaraçosas e extremas, é hora de testar a capacidade de resiliência.
Fui em direção a sala, mal vi as pessoas ao redor, esbarrei em alguém. Sim, justamente isso, esbarrei na única pessoa que eu não precisava ver nesse dia, o motivo das noites em claro. Era impossível fazer de conta que não tinha visto ou sentido nada, o jeito foi trocar algumas palavras e seguir para terminar o que ainda precisava ser feito, foi isso que eu fiz.

domingo, 13 de março de 2011

Quinquilharias do antigo blog parte... nem sei mais

O dia em que a cidade parou

Aquele foi um dia diferente, eu não tinha nada para fazer em casa, então resolvi dar uma volta na cidade. Tarde fria, o sol escondido, mas não era nublado, difícil de explicar.
Quando subi a rua da minha casa vi que algo estranho acontecia, os carros parados, os guardinhas e aqueles malditos apitos, buzinas insuportáveis, pessoas estressadas batendo com a cabeça na direção, davam até medo.
Isso era normal em cidades grandes, mas não aqui, uma cidade relativamente pequena onde o trânsito sempre foi tranqüilo e os guardinhas não usavam aqueles apitos desgraçados.
Logo que cheguei à rua principal, aquelas ruas onde grandes empresas logísticas têm uma filial em cada quarteirão com super ofertas e liquidações, tinham várias pessoas correndo entre os carros, as malditas buzinas soavam mais fortes, crianças perdidas dos pais, uma loucura.
Eu que não tava entendendo nada e já estava puto da cara com aquele barulho todo resolvi perguntar para alguém o que estava acontecendo.
Pedi para uma mulher gorda que estava sentada ao lado da carrocinha de pipoca e cheia de sacolas a sua volta.

-Hey senhora, tu sabes o que esta acontecendo nessa cidade?
-Na cidade?

Logo vi que ela sabia menos que eu, baita gorda imprestável, aposto que estava ali só porque o dono da carrocinha de pipocas tinha saído junto com os outros para pular em cima dos carros, assim ela podia comer sem pagar.
Resolvi continuar caminhando naquela rua, não tinha uma pessoa normal naquilo tudo, pela primeira vez na vida me senti o ser mais certo da cabeça que existia na Terra.
Virei a esquina e lá estava um ônibus trancando a rua, impossível a passagem de algum carro, fiquei só observando, no outro lado da rua tinha uma árvore caída e alguns cachorros correndo loucos atrás do rabo, fiquei observando, como poderiam ser tão burros? Nunca iam conseguir morder o próprio rabo, o certo seria morder o rabo dos outros, mas, assim se igualariam aos humanos que vivem querendo ver o outro se foder.
Mas voltando ao assunto da confusão que a cidade se encontrava, a cada rua era uma surpresa diferente, ninguém conseguia explicar o porquê de tudo aquilo.
Já não sabia mais nada, resolvi voltar para casa. Ascendi um cigarro e voltei pelo mesmo caminho.
O ônibus continuava lá parado, ninguém ia nem voltava só que dessa vez tinha algo diferente, as pessoas que estavam lá tinham sumido, parecia que o caos tinha passado, a cada rua que eu voltava o silêncio tomava conta, as ruas ficavam vazias.
Passei pela carrocinha de pipocas e não tinha nem a pipoca nem a gorda, no mínimo ela comeu tudo e foi embora.
Mas e os outros porque tinham sumido?
Na verdade ainda queria saber o que tinha acontecido antes, minha cabeça estava embaralhada demais, já não sabia por que tinha saído de casa.
Desci a rua de casa correndo, admito que estivesse com um pouco de medo, entrei correndo pela porta do prédio, nem sinal de vida naqueles malditos corredores compridos e escuros. Péssimo lugar para alguém viver, mal tinha luz, o sol não entrava direito pelas frestas, as janelas nunca abriam eram emperradas, mas era barato e eu não estava em condições de morar em outro lugar.
Entrei em casa me atirei no sofá, um sofá que tinha comprado em uma loja de móveis usados, liguei o som e fiquei lá fumando e pensando, mas não tinha como explicar a loucura que tinha acabado de ver. Pessoas enlouquecidas, a cidade no caos e simplesmente tudo parou do nada e eu estava sozinho na rua!
Minha cabeça girava, era engraçado demais, sabia que pessoas eram loucas mesmo, mas não ao ponto disso.
TUM...alguém estava batendo na porta.
Olhei pelo olho mágico, era o vizinho, desde que me mudei era o único amigo que aparecia no meu apartamento.
Ele era engraçado, tudo era motivo para ele filosofar, um cara totalmente fora de si, louco, bêbado e deslumbrado com algumas coisas alucinógenas , grande amigo.
Abri a porta e ele saltou para dentro.

-Você viu? você viu?
-Vi o que?
-As pessoas na rua, o negocio do fim do mundo, todos correndo enlouquecidos?
-Eu vi, mas, não entendi nada. Que historia é essa de fim de mundo?
-Deram na televisão, o fim do mundo esta chegando, eles falaram pra todos saírem de suas casas e aproveitarem seus últimos minutos de vida, não passaremos desta noite.
-Maldita mania de acreditar em historias da TV, será que são todos mais loucos do que eu imaginava?
Fim do mundo, grande merda essa besteira, amanhã iremos todos acordar felizes como se nada tivesse acontecido.

Só podia ser coisa de Brasileiro mesmo, acreditar o que os malucos da TV dizem. Pra variar meu amigo estava bêbado e eu não. Fiquei um tempo ali sentado, enquanto ele atacava a geladeira atrás de cervejas. Como poderiam acreditar naquilo, merda de fim do mundo, grande mentira tudo isso, mas se fosse verdade?
Resolvi sair comprar mais cervejas e wisky, se fosse o fim do mundo pelo menos eu morreria bêbado e não teria que acreditar que o homem se tornou tão manipulável ao ponto de se desesperar com toda essa besteira de fim de mundo. Não tinha ninguém na rua, entrei no mercadinho da esquina, peguei tudo o que eu queria e voltei para casa, meu sofá me esperava e o vizinho já tava caído por lá. Me acomodei no sofá, bebendo e escutando música, se fosse pra morrer morreria tranqüilo, até que adormeci.

O sol bateu fraco na minha cara, era dia e eu ainda estava vivo, ou melhor, achava que estava, fui até a janela e vi que a rua estava normal, pessoas andando nas calçadas, carros na rua e nada de ônibus parado no meio da rua.
Por um momento pensei nossa esses burrões ontem se matavam pelo fim do mundo, hoje voltam a se matar pra ter um pão para comer.
Sai na rua atrás de alguém que soubesse me dizer se eu estava vivo ou morto.
As pessoas andavam normais, pegavam ônibus, o transito calmo, os malditos apitos longe da visão dos guardas, um dia normal muito diferente do que tinha visto ontem.
Cheguei perto de um homem com chapéu de palha, roupa bem passada e um perfume insuportável.

-O senhor poderia me dizer o que está acontecendo?
-Nada.
-Mas e a correria de ontem? Aquela confusão toda?
-Não sei o que você esta falando.
Baixei a cabeça e entrei num café próximo da minha rua.
Sentei e pedi um café expresso duplo e forte e tentei pensar sobre toda locuragem que tinha sido o último dia.
Foi só então que eu não entendi mais nada daquela coisa toda, fiquei ali parado um tempo, tomei um grande gole amargo daquele expresso. Afinal mesmo que não fosse coisa da minha cabeça, as pessoas tinham que enfrentar o fim do mundo todos os dias e como eu não fazia nada voltei para casa e passei o resto do dia, bebendo e pensando que minhas alucinações estavam indo longe de mais e o pior é que eu tava começando a curtir isso.

Ana Ferraz

quinta-feira, 10 de março de 2011

Bukowski

Dia 09/03/94 foi a data da morte do velho safado Bukowski!
Eu tenho muitos livros dele em casa, já li quase todos que existem, mas os poemas eu achei na internet. Um deles é esse:

Se vai tentar
siga em frente.

Senão, nem começe!
Isso pode significar perder namoradas
esposas, família, trabalho...e talvez a cabeça.

Pode significar ficar sem comer por dias,
Pode significar congelar em um parque,
Pode significar cadeia,
Pode significar caçoadas, desolação...

A desolação é o presente
O resto é uma prova de sua paciência,
do quanto realmente quis fazer
E farei, apesar do menosprezo
E será melhor que qualquer coisa que possa imaginar.

Se vai tentar,
Vá em frente.
Não há outro sentimento como este
Ficará sozinho com os Deuses
E as noites serão quentes
Levará a vida com um sorriso perfeito
É a única coisa que vale a pena.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Quinquilharias do antigo blog parte IV

Descobri que tem gente que lê isso aqui e que gosta! hahaha
Por isso mais um dos antigos, da mesma época do outro e a mesma coisa de sempre.







Cinema mudo


"Amor sem palavras, cinema mudo.”


Ela chegou na festa, calça branca de um tecido leve , uma blusa azul e casaco jeans, que davam um ar de descontração. Procurou o lugar menos iluminado do salão, puxou uma cadeira, debruçou-se na mesa e alguém lhe deu um copo cheio de cerveja. Bebeu o primeiro gole, a bebida parecia entrar em seu intimo que resfriava seu corpo provocando arrepios, mas ela gostava da sensação. Naquela noite tudo o que ela queria eram novas sensações, estava à procura de alguma coisa, mas não sabia bem o que procurava.
Sempre foi muito comunicativa, gostava de estar com os amigos batendo papo, só que ultimamente ela não andava nem um pouco entusiasmada para isso. As pessoas chegavam perto da mesa e puxavam assuntos supérfluos como, a vida alheia, faculdade, festas, mas ela apenas respondia por educação com um sim ou não, e às vezes um, pois é. Talvez fosse tristeza, ansiedade por alguma coisa que não sabia o que, ou apenas vontade de submergir, ali mesmo naquela cadeira e esquecer todos os assuntos desinteressantes que estavam sendo sussurrados aos seus ouvidos. Na verdade estava cansada com o modo em que levava sua vida, desatenta com a vida de seus amigos e desleixada consigo mesma. Ela queria sentir-se completa, mas alguma coisa impedia que isso acontecesse. Tentava se convencer que era apenas uma neurose boba que passaria assim que bebesse mais umas cervejas e se integrasse ao pessoal, que dançava no meio do salão, um rock antigo que não permitia que alguém ficasse parado.

Continuou a beber, quando menos esperava foi tirada para dançar.

Ele era um rapaz alto, moreno, vestia calças jeans rasgadas e uma camiseta verde, não usava nem óculos ou chapéu. Não conhecia muitas pessoas na festa, nem sabia como havia parado lá. Era mais um desses garotos quietos que aparecem nas festas para não se sentirem deslocados do mundo em que vive, na verdade preferia ficar em casa jogando vídeo-game ou lendo um livro interessante. Uma pessoa tímida, de poucos amigos, pouco comunicativa que bebia de vez em quando, não gostava de fumar e escutava música clássica. Nunca se dava bem com as garotas, talvez por ser magrelo, barba por fazer e cabelo bagunçado. Sabia que o seu maior inimigo em relação às mulheres sempre foi seu jeito tímido, mas não sabia como ser diferente.
Acabou entrando na festa com a intenção de modificar seu roteiro, ao contrário do que esperava estava com um cigarro aceso na mão, mas não havia bebido nada. Avistou de longe uma garota de cabelos longos que usava uma calça branca e parecia meio deslocada do resto da festa. Não sabe como ou porque, mas viu nela alguma coisa que iria ajudá-lo. Levantou-se e foi dirigindo-se a parte mais escura da festa, foi afastando as cadeiras e mesas que estavam em seu caminho. Chegou perto da última mesa do salão, sentou-se ao lado da garota das calças brancas, ela parecia distraída, não havia notado a presença dele ainda. Pegou na mão da moça e a chamou para dançar.

Sem pensar muito no que estava fazendo ela foi se levantando e os dois começaram a dançar ali mesmo, na parte escura da festa, onde poucas pessoas poderiam vê-los.
Ele parecia confuso com o que acabara de fazer, nunca imaginou tirar uma menina para dançar, nunca dançava muito, ficava timidamente ensaiando uns batuques das músicas que ouvia.
Ela estava assustada, nem havia notado a presença do garoto quando notou que já estava dançando com ele, a música alta e agitada não a deixava pensar direito, foi deixando-se levar pela melodia e pelos braços do rapaz misterioso.

A música acabou ela não sabia o que fazer, ele a abraçou. Ele sabia que alguma coisa estava errada, não sabia da onde havia surgido tanta coragem. Ela não estava entendo porque ainda não havia falado uma palavra com ele. Os sentimentos de ambos misturavam-se, eles sentiam-se em harmonia, os corpos juntos, os braços entrelaçados, não foi preciso muitas palavras ou explicações. Soltaram-se, ele gaguejou alguma coisa, um som que não foi possível traduzir, ela puxou seu copo de cima da mesa e tomou um grande gole de cerveja quente.
Da mesma maneira com que eles acabaram dançando os dois foram se distanciando, viraram-se de costas um para o outro, cada um seguiu seu caminho.
Ele até a porta de saída, ela foi até a janela. Ele carregava a certeza que aquela seria a mulher mais importante de sua vida, ela sabia que algumas respostas para suas angustias haviam sido encontradas naquele rapaz.
Nunca mais viram um ao outro.

Ana Ferraz

quarta-feira, 2 de março de 2011

Quinquilharias do antigo blog parte III

Mais um texto do "ouse-ouse-tudo". Eu tinha 18 anos quando escrevi nessa época eu lia muito Caio Fernando Abreu e ouvia Los Hermanos de mais, qualquer semelhança é mera inspiração hehehe





Um filme no close pro fim


“Olha aqui eu preciso falar com você, desse jeito não dá mais a gente não consegue se entender, parece que os dois mudaram e não estou conseguindo agüentar essa situação, precisamos conversar, quando você chegar em casa, me liga! Ainda te amo.”

Desligou o telefone, aquela mensagem tinha o deixado meio zonzo, as mãos começaram a suar e sentia que sua garganta estava querendo expelir alguma coisa, não sabia direito se era choro, grito ou se estava passando mal. Aquela sensação durou alguns minutos, sentou-se no sofá e ficou parado sem se mover ou expressar alguma reação em relação a nada, muito menos ao que acabara de ouvir, uma mensagem na secretária eletrônica, forma cruel de descobrir que só amor as vezes não é suficiente.
Passada a sensação inicial, caminhou em direção a geladeira, morava em um conjugado, mas que na verdade era uma sala comercial que seu pai tinha lhe dado de presente de formatura, um futuro escritório de advocacia que acabou virando casa. Abriu a geladeira e havia poucas alternativas, uma jarra com água, uma lata de refrigerante, dois pedaços de pizza velhos, uma garrafa de cerveja, um ovo e um pé de alface. Agarrou a primeira coisa que viu - foi a jarra de água -, encheu um copo e sentou-se novamente no sofá.
Pensou em muitas coisas, contrariando o clichê ele não pensava nos momentos felizes que tinham vivido juntos ou na viagem à Holanda, dois mochileiros em busca de aventura na terra da liberdade para comemorar dois anos de namoro, ele pensava em filmes que havia visto, nas músicas que costuma ouvir e tudo o que ele lembrava era o “Ainda amo você” que soava forte em sua cabeça, realmente o amor é um misto de desejos, sonhos, promessas de paraíso que dividem espaço com dores sem remédios, pranto, depois vira nada, uma lembrança qualquer.
Ele também tinha coisas a dizer a ela, pegou o telefone, disposto a ligar, discou o número da casa dela, sabia que no meio da tarde ela não estaria lá, queria deixar seu recado, ele precisava dizer algumas coisas e não queria resposta imediata, queria ser cruel também.
“Eu acabei de ouvir o seu recado, é realmente temos muitas coisas para resolver, preciso falar também, quero dizer pra ti muitas coisas, coisas que normalmente não se diz não quero me entregar assim, não poderia falar o que quero, pois depois que eu dizer você me terá em suas mãos, mas vejo que esse é o último suspiro que nosso amor pode dar então eu preciso te falar, mas não sei como...”.
Desligou o telefone, não teve coragem de falar, não poderia falar, era complicado para ele, era amor indo embora e isso não é comum, duas pessoas que se amam deveriam se bastar, mas a vida é cruel, muito mais cruel do que ele ou ela poderiam ser. Ele era mais sentimental que ela, por isso não sabia o que fazer, ele precisava dizer todas as coisas que estavam engasgadas em sua garganta, só não sabia como, também tinha medo da reação dela, era difícil despir-se de todo seu orgulho e entregar seus sentimentos para uma mulher, mesmo que ela fosse aquela, a sua mulher.
Duas horas depois o telefone tocou, era ela, disse que precisava encontrar com ele, mas não queria que fosse na casa de nenhum deles. Marcaram então o encontro em um parque da cidade. Ele chegou antes dela, sentou-se em um banco, o céu era estrelado, a brisa da noite era fria, não havia quase ninguém por perto, ele sabia que aquele seria uma conversa definitiva, apenas os dois e o céu estrelado como testemunha.
Quinze minutos depois ele a avistou de longe, seus cabelos negros contrastavam com sua pele muito branca, o olhar da moça não era muito diferente do dele, os dois tinham olhares inseguros, duvidosos, sabiam que aquele momento seria crucial para resolver o futuro daquele amor, que ainda queimava, mas que não bastava.
Ela se aproximou, deu um tímido beijo nos lábios do moço, que tremiam e era possível ver sua testa suando, a insegurança era clara na face daquelas duas almas. Eles sentaram-se no banco e nenhum dos dois falou se quer um apalavra, passaram-se muitos minutos e nenhum som poderia ser ouvido. Até que ele colocou o braço em volta dos ombros dela, ela se aproximou e abraçou-o também, ficaram ali abraçados por muito tempo. Eles não sabiam o que estavam fazendo, eles se amavam, mas não davam certo, talvez os três anos de namoro sem nenhuma briga ou pausa não mostrava realmente o que eles viviam, era por isso que eles estavam abalados com aquilo, ela teve a coragem de falar que as coisas não iam bem e ele tinha a coragem de tentar mudar as coisas, mas nenhum era corajoso o bastante pra falar o que estavam sentindo, ali sob o céu estrelado numa noite de brisa fria.

“Eu não sei como falar o que eu preciso, por favor, não fale nada até eu terminar, não quero ser cruel, mas é necessário que eu diga antes que essas palavras me sufoquem. Aquilo que eu temia aconteceu, sofro por saber que nosso amor é pouco para deixarmos juntos, mas eu não sei mais porque em ti eu consigo encontrar o caminho certo de seguir, se saíres da minha vida agora não sei para onde ir, talvez tu não sintas a mesma coisa que eu. Eu te disse que hoje eu me daria pra ti, depois que eu falar tudo o que preciso, me terás em suas mãos e eu tenho medo,você é meu grande amor, te imploro se vais embora vá logo, meu coração não sabe lidar com isso, eu não posso te perder a não ser que tu queiras. Amor não se mede e eu não sei dizer o quanto te amo, mas eu sei que ele não se basta pra gente ser feliz. Se me deixares agora, eu volto, não sei ainda quando, mas eu vou roubar de novo teu coração.”

Ele se entregou a ela de forma que não poderia mais voltar atrás, aquelas palavras penetraram fundo no coração confuso da moça. Ele parou de falar, no mesmo momento ela começou a chorar, um choro tímido, munido de sentimentos. Enquanto ela chorava, ele se enchia de esperanças, aquele choro só podia significar que ela queria ficar com ele. Mas não foi bem assim, ela não falou nada, apenas abraçou mais forte, ele retribuiu a força do abraço com um beijo na testa. “Ainda te amo”, foram as palavras que saíram da boca dela naquele momento, um ainda te amo, baixinho com a voz tremula por causa do choro. Um beijo amoroso e demorado aconteceu. As estrelas testemunhavam aquele momento, era uma conciliação, de um casal que nunca tinha rompido seus laços, onde o amor fluía intenso, mas só amor não era o bastante. Aquele foi o momento auge, ele lembrou dos filmes novamente e era tudo muito parecido com o cinema.
Depois daquela noite, ele não era mais o mesmo, metade dele ela tinha levado, a outra metade prometia um dia se tornar completa, só o amor não foi suficiente.