quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Quinquilharias resgatadas pelo Bukowski

Um dos melhores caras que eu encontrei na literatura americana foi John Fante, acho que ele me envolve com a forma de escrever, direto, simples e intenso, cheio de sentimentos.
Porque trazer o Fante agora?
Simplesmente porque o título de um dos livros dele está ressoando na minha cabeça nos últimos dias, é só pensar em final de ano que ele vem: "1933 foi um ano ruim".
2010 foi um ano ruim, parafrasear o Fante é uma forma de resumir como foi 2010 pra mim, mas não quer dizer que só tenha acontecido coisas ruins, mas foi um ano difícil com muitas mudanças internas, externas, conflitos, trabalho psíquico intenso.
Na contra capa de 1933 da L&PM tem escrito: "1933 é um ano ruim porque Dominic depara-se com as impossibilidades da vida humana e tem de escolher entre seu sonho dourado e a pequena existência que lhe é insuportável".
São coisas assim que tornaram 2010 um ano ruim, impossibilidades, pequena existência insuportável, tudo isso que o Fante coloca na vida do garoto que sonhava em jogar Baseball acontece também nas vidas dos anos 2000, 77 anos depois da vida de Dominic passar por esses conflitos. Assim é possível concluirmos que emoções não mudam com o tempo, como disse o Bukowski, o Fante era um cara sem medo da emoção, essa é uma característica que eu queria ter, mas infelizmente emoções ainda me assustam um pouco, talvez essa seja uma questão a ser revista, não sei se como objetivo para 2011 porque eu nunca faço essas coisas de metas pro ano novo, retrospectiva do ano velho. Acho meio decadente isso, afinal é uma noite que passa e as coisas continuam as mesmas, pra mim elas seguem iguais a unica coisa que muda com o ano novo é que logo eu acumulo um ano a mais de idade. Assim já se foram 22 na bagagem, acho que bem vividos, mas ainda tem muita coisa pra eu viver e aprender, claro 22 anos é um bom tempo pra crescer mas ainda faltam tantas coisas que vem com o tempo, quando eu começar a esconder a idade vai ser o primeiro sinal de que eu estou aprendendo alguma coisa, quem sabe até lá eu me permita ser uma mulher que não tem medo das emoções, assim como John Fante.
Enquanto isso seguiremos todos em frente, pra mais um ano com perspectivas de um grêmio forte, um trabalho pra garantir uma grana só minha, estágio de escolar e o terror de começar a estudar clínica hehehe

Até o ano que vem ou não... quem sabe?

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

quinquilharias...

Eu tenho vivido uma inconstância de sentimentos. Na loucura da minha cabeça me perco em pensamentos que imaginava não ter mais, eu pensava que tinha um controle sobre o que eu sinto, sobre meus medos, certezas de um controle que hoje eu vejo que não tenho. E isso não é de todo mal, talvez me atrapalhando eu descubra que eu estou viva, que eu sou intensa, que eu posso sentir ainda.
Aos que sofreram os respingos dessa minha loucura, perdão. Aos que embarcaram nela comigo, obrigada. Aos que passaram longe, parabéns. A todos, a mim e a vida, vamos seguir.

"Rompi tratados, traí os ritos, quebrei a lança, lancei no espaço, um grito, um desabafo..."

sábado, 11 de dezembro de 2010

Quinquilharias erepianas

Hoje tive notícias de uma pessoa muito especial que faz tempo que eu não vejo. É muito bom saber como estão as pessoas que moram longe, ainda mais quando alguns acontecimentos da vida acabam nos afastando um pouco.
Existe na minha vida uma ocasião que ocorre uma vez por ano que é responsável por algumas das relações mais bonitas que eu tenho, são quatro ou cinco dias especiais, num espaço livre onde todos podem apenas ser, sem preocupação alguma com coisa alguma.
Lá eu criei laços que carrego a alguns anos já, pessoas que me ajudaram a ver a vida de uma forma um pouco diferente, que me acrescentaram vivências e sentimentos que formam um pouco o que sou hoje. Ainda existem pessoas que entraram na minha vida mais recentemente e que também já mudaram algumas coisas, essas mudanças são muito significativas pra mim. Talvez não seja possível para todas as pessoas que freqüentam esse espaço entender a grandeza disso, a de"s"formação que a gente passa no começo, uma sensação de desconstruir o que a gente pensava ser único, que acaba gerando uma afetação total da realidade onde o que se pode fazer são muitas trocas e possibilidades. Uma brincadeira até tosca com os temas, mas que faz todo o sentido, um sentido de continuidade que é presente em todos os anos, a expectativa pelo próximo porque se sabe que algumas coisas só podem acontecer lá, porque aquele é o espaço pra essas coisas acontecerem. Essa é a grandeza de tudo isso, a beleza de poder ser apenas o que se quer, sem medo.
Acho que essa sensação que fica quando a gente volta pra rotina, de que algumas coisas simplesmente não acontecem na vida "irreal", do cotidiano, talvez porque a vida que a gente leva as vezes acaba sendo mecânica, como se fosse alguma coisa premeditada, talvez programar a vida a torne irreal. Esse sentimento me causa uma falta enorme, quando troquei informações com esse amigo especial eu não sabia o que dizer a não ser a falta que ele faz, a falta que essas pessoas fazem, a falta de abraços inesperados, lambidas na cara, palavras de afeto, liberdade quase plena, necessidade de fazer nada junto, saudade do mato e da chuva de flores amarelas. Essas coisas são combustíveis quando as minhas coisas não vão muito bem, a esperança de saber que um dia essa hora chega e os encontros acontecem de novo, continuando aqueles cinco dias do ano passado e resgatando um pouco do que foi se perdendo pelo caminho.
Talvez o meu momento não seja dos melhores, talvez nem tenha um grande motivo pra isso, mas saber que logo verei tanta gente e sentirei tantas coisas resgatam um pouco das coisas que penso ter perdido ultimamente. Pode ser só saudade, mas quem sente saudade é porque sente amor por alguma coisa, algumas pessoas e alguns lugares e isso eu sei que eu sinto, o afeto deles me afetou e agora já não tem mais volta.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Quinquilharias argentinas

Dias de chuva as vezes são um problema, normalmente quando chove o tédio chega e eu nunca sei o que fazer. Então eu leio um pouco, fico um tempo me inutilizando na internet, vejo um pouco de TV e assim vai o dia inteiro. Mas existem coisas que fazem me perder no tempo, normalmente elas acontecem em dias de chuva, como hoje.
Resolvi separar alguns discos antigos, herança do meu meu avô, acabei me deparando com muitos discos de tango, de Gardel a Piazzolla, fiquei horas escutando. Eu não sei muito bem o porque de gostar tanto desse tipo de música, isso mexe um pouco com as emoções, é um tipo de música que entra na alma e dança lá dentro dando uma sensação de choro e paz. É, uma viagem, mas é isso que eu sinto, muitas coisas me fazem sentir isso, as vezes um texto bem escrito, um filme bem feito, uma peça de teatro e uma música bem executada, como essas, como o tango. E por incrível que pareça isso faz bem, lava a alma.
Penso um pouco na Argentina, ela tem essa diferença, o nosso samba é alegre, fala de dor mas com alegria. O tango argentino fala através da dor, o drama. Brasil e Argentina, tão parecidos e ao mesmo tempo tão diferentes, é impossível tentar comparar, porque não existe comparação. O bom mesmo é aproveitar as duas coisas, alegria triste do samba, o drama triste do tango.
Isso não é depressivo, pode ser um pouco profundo e isso pode causar um estranhamento, é difícil sermos profundos hoje, a praticidade e o não pensar tomam conta até das emoções. Mas a gente que escolhe quando, como e porque ser profundo, as vezes, quando o tango dança na alma eu fico um pouco assim e não é nem um pouco triste. Talvez se minhas referências fossem um pouco mais atuais, como Gotan Project por exemplo, não soaria assim tão dramático, mas é que de Gardel a Gotan Project, de Noel a Diogo Nogueira, triste alegre, dramático triste, do jeito que for, tango ou samba tocam fundo, encantam, fazem bem, pelo menos em dias de chuva, lavam a alma.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Quinquilharias existencialistas!

Acabo de levar um susto da vida!
Hoje é sexta-feira, as pessoas saíram de casa, metade dos meus amigos estão arrumando mala ou pensando em show do Paul, outros estão na aula ou fazendo alguma coisa significativa nas suas vidas, menos eu. Tá e qual é a do susto???
Eu sempre fui a rainha da ociosidade, fazer nada é o que eu fazia de melhor. Agora que eu estou aqui em um momento onde eu não tenho nada pra fazer e não preciso fazer nada eu começo a pirar que eu preciso fazer alguma coisa. Sim, eu acho que eu estou finalmente virando mocinha, mas essa angústia de não fazer nada me incomoda. Talvez eu tenha me acostumado a sempre fazer alguma coisa, mesmo que não fosse produtiva ou significativa, pensar em não fazer nada nunca tinha me incomodado antes, acho que eu me rendi aos tempos modernos. Tempos onde só vale alguma coisa quem produz, as pessoas perderam a essência do não fazer nada, ócio virou mesmo sinônimo de vadiagem, porque todo vadio é aquele que não produz, produção é sinônimo de dinheiro e tudo vira um ciclo de faz, ganha, existe!
Será que hoje não precisa mais pensar pra logo existir ou simplesmente existir e pensar não servem mais na mesma frase?
Quando Descartes concluiu que ele existia apenas pelo fato de pensar, partiu do princípio que duvidar o fazia pensar, por isso ele existia. Será que hoje ainda podemos afirmar que a nossa existência é provada através da nossa dúvida ou é preciso pensar demais pra duvidar das coisas. Afinal, vamos duvidar do que, as coisas estão todas aí, tudo o que precisamos saber está no Google e a televisão nos permite assistir diversas coisas ao mesmo tempo. Duvidar pra que, pensar pra que, pensar é perder tempo, quem duvida perde tempo de produção, entra em um campo que não é permitido, foge do sistema, confronta o que é estabelecido e acaba pensando em existir de uma maneira diferente.
Tá e o que seria existir hoje, já que não existe dúvida e pensamento? não sei, eu acabei de levar um susto ao ver que o fazer nada me incomoda. Tentando digerir a idéia que o mundo moderno me pegou, fico eu aqui pensando, existir realmente tem o mesmo significado pra todas as pessoas ou será que as pessoas simplesmente existem cada um a sua maneira. Nem todo mundo não quer pensar, nem todos não duvidam, assim como existem aqueles que nem pensaram que podem pensar e duvidar, então eles não existem?????
Talvez existir tenha hoje um significado diferente do que o Descartes concluiu, existir é estar, mas apenas estar não significa que a pessoa existe, complica né?
Existir tem muitas definições no dicionário, entre elas; viver. Então podemos dizer que existir além de viver significa permanecer, ser algo em algum momento. Se existir se define dessas maneiras, então aquele que pensa existe, o que não pensa também existe, basta estar vivo pra existir, talvez não basta existir pra viver. Mas e o que o ócio tem a ver com isso tudo?
Se hoje só vale alguma coisa quem produz e produzir acaba sendo existir eu tenho que discordar disso, porque pensando melhor no que é existir dá pra perceber que não é só quem produz que existe, o ocioso também existe, arrisco a dizer que o ocioso também produz, talvez ele nem seja ocioso, mas a gente fica condicionado a chama-lo assim pelo simples fato de a produção dele não gerar lucro.
Se existir e viver podem ser sinônimos, eu me arriscaria a dizer que o ocioso da modernidade vive muito mais do que os existentes, produtores e lucrativos seres que valem alguma coisa. Talvez eu tenha produzido muito mais nesses poucos minutos do que quando eu estou cheia de coisas pra fazer, me rendendo a vida moderna. Mas seria muita audácia minha querer pensar sobre isso né?
Penso, logo existo. Não existo apenas porque penso, não penso apenas porque existo, não vivo apenas existindo, eu valho alguma coisa apenas fazendo nada.
Tá e as quinquilharias??????
Essas letras ai são as quinquilharias, quinquilharias existenciais, algumas tu aproveita outras tu joga fora!

sábado, 18 de setembro de 2010

Quinquilharias afetivas

Depois de muito tempo sem escrever sobre as quinquilharias da vida eu voltei a pensar nelas. Passo a maior parte dos meus dias pensando, estudando e lendo sobre o afeto, as vezes nem tão explicitamente assim, mas através de outros olhares o que a gente passa a vida procurando e lidando é com o afeto. Relaciornar-se com pessoas é ter ligações afetivas com elas e isso não acontece apenas nas relações profundas, é como se fosse uma pré-condição para que os relacionamentos aconteçam.
Pensando nisso eu procurei rever as minhas relações, acabei descobrindo que de certa forma estão um caos. É complicado quando a gente percebe que nossas relações estão com dificuldades, principalmente quando não sabemos muito bem porque. São tantos os motivos possíveis, são tão estranhas as reações das pessoas que não consigo as vezes distinguir quem é o responsável por algumas coisas. Quando se tratam de relações humanas, pessoas são complexas demais para a gente tentar explicar assim, achando um responsável por alguma coisa. Quando a gente se dispõe a pensar sobre isso um leque de possibilidades se abre, a gente fica confuso, chora, procurar entender, procura se auto criticar para achar as respostas, mas as vezes não existe resposta, talvez tenha sido uma discussão boba, um oi mal dado, uma idéia diferente, um não conhecer realmente o outro e isso já basta paras coisas mudarem, as relações estremecerem.
E elas modificam mesmo, algumas vezes as coisas mudam devagar, as pessoas vão se perdendo aos poucos, outras vezes são abruptamente afastadas, existem situações em que nunca mais as pessoas se olham no rosto e muitas outras que o antigo amigo, amor, parente vira o foco da maldade alheia. Como lidar com tudo isso?
Talvez essas reações sejam apenas algumas que ocorrem, não citei a minha, que foi pensar e repensar, buscar explicações, achar coerência no que as pessoas dizem, concordar com criticas, discordar de algumas delas, se sentir mal e lavar o rosto com lágrimas. Depois de tudo isso desabafar na internet, como se quisesse gritar pro mundo e para as pessoas que se afastaram ou que afastou "eu estou aqui, talvez as coisas não tenham saído como deveriam" ou simplesmente desabafar para quem estiver afim de ler.
Não sei muito ao certo como cada pessoa resolve seus problemas afetivos, mas que a busca do afeto é constante eu tenho certeza, por mais frágeis que estejam as relações humanas hoje em dia, as pessoas só precisam de outras pessoas para se sentirem completas, vivas, humanas. Quando isso não acontece muitas pessoas acabam virando quinquilharias umas para as outras, mesmo que tentando parecer indiferentes elas sofrem com isso, porque somos seres humanos, sociais e sociáveis desde que nascemos.