quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Pra acabar com 2011




Haverá um dia em que você não haverá de ser feliz.

Sem tirar o ar, sem se mexer, sem desejar como antes sempre quis.
Você vai rir, sem perceber, felicidade é só questão de ser.
Quando chover, deixar molhar pra receber o sol quando voltar.
Lembrará os dias que você deixou passar sem ver a luz.
Se chorar, chorar é vão porque os dias vão pra nunca mais.
Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e depois dançar, na chuva quando a chuva vem.
Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e dançar.
Dançar na chuva quando a chuva vem.
Tem vez que as coisas pesam mais do que a gente acha que pode aguentar.
Nessa hora fique firme, pois tudo isso logo vai passar.
Você vai rir, sem perceber, felicidade é só questão de ser.
Quando chover, deixar molhar pra receber o sol quando voltar.
Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e depois dançar, na chuva quando a chuva vem.
Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e dançar.
Dançar na chuva quando a chuva vem.

Marcelo Jeneci

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Associação de livre querer...

Quero viagem, quero férias, quero afeto, quero abraço, quero amor, quero livros, quero alegria, quero cerveja, quero amigos, quero contato, quero perdão, quero grama, quero festa, quero sol, quero lua, quero vento, quero liberdade, quero carinho, quero compreensão, quero tolerância, quero respeito, quero violão, quero coca-cola, quero pizza, quero barraca, quero passarinhos, quero descomplicar, quero mar, quero música, quero piano, quero gritos, quero dormir, quero sonhos, quero carona, quero dinheiro, quero ação, quero sentido, quero toque, quero moletom, quero avós, quero leite com nescau, quero simplicidade, quero contato, quero pensamento, quero chico, quero emoções, quero sentir, quero ansiedade, quero saúde, quero samba, quero leveza, quero sinceridade, quero olhar, quero conhecimento, quero beijo, quero cachorro, quero entrelaço, quero pés descalços, quero deitar na grama, quero chimarrão, quero correr, quero barulho, quero amores, quero bem-querer, quero família, quero cinema, quero ser amada, quero vitórias, quero amar, quero tantas coisas que as vezes nem cabo em mim. o mundo é meu e quero buscar o meu lugar!

domingo, 11 de setembro de 2011

Sentimentos do mundo

Bateu uma insônia, uma ansiedade daquelas que vem do nada. Então resolvi ver o que eu achava de interessante  na internet. Na madrugada silenciosa, só os cachorros se manifestam de vez em quando. Então achei Drummond e passei horas lendo e relendo tudo que me tocava. Separei alguns pra por aqui, hoje vamos de Carlos Drummond de Andrade!

Sentimentos do mundo


" Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microcopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite."





Mãos dadas


" Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes,
a vida presente."



Mundo Grande


"Nao, meu coração não é maior que o mundo.
Ê muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo.
Por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens.
as diferentes dores dos homens.
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que elo estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma. Não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! vai’ inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos —— voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de invidíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar.
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
— Ó vida futura! nós te criaremos"

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

quase 20 minutos olhando pra essa tela em branco. foram os 20 min mais tranquilos desse dia que não teve uma folga pra ser alguma coisa que não fosse uma pessoa correndo atrás de coisas atrasadas, escutando pessoas reclamando, organizando e desorganizando idéias, sentindo raiva e vontade de jogar tudo pro ar.
esses minutos que fiquei olhando para tela em branco me fizeram pensar em muitas coisas que eu poderia escrever aqui, mas nenhuma delas tinha a capacidade necessária pra ser desenvolvida no decorrer do texto. tem dias que me sinto assim, com muitas coisas na cabeça, mas sem força pra desenvolve-las no decorrer dos dias.
já cansei de pensar sobre o que fazer com elas, realmente as vezes eu não sei o que fazer em dias como esse. sinto vontade de correr, sair de perto de todo mundo, chorar, resolver tudo de uma vez, fazer tudo que preciso... é muito louco como a gente tem dias que tudo parece nada, parece que tudo o que a gente precisa resolver é pra todos, menos pra gente. tem dias que a gente cansa um pouco de tudo.
de repente aparecem 20 minutos, já no finalzinho do dia, pra lembrar que amanhã tem mais dias pela frente!

domingo, 21 de agosto de 2011


“A grande decepção dos amantes que buscam a felicidade através do amor é produzida pela sua incapacidade em aceitar que, como todas as coisas vivas, o amor também tem um começo, um meio e um fim. Nem seu tempo, nem seu espaço e nem a sua alegria podem ser determinados e controlados por razão da vontade e pela força de poder. Assim, às vezes somos obrigados a perder um amor precocemente, ou a ter de suportá-lo desnaturado, moribundo ou mesmo morto. Só a liberdade e a autonomia nos ensinam a aceitar biológica e humanamente o tempo, o espaço e a alegria das coisas vivas.”

domingo, 14 de agosto de 2011

a vida segue e a gente vai com ela!

eu ainda acredito em seres humanos!
pode soar estranho essa frase. para alguns o estranhamento vem do fato de que a fé nos seres humanos é quase inexistente frente aos acontecimentos do mundo, já para outros não acreditar em seres humanos é um absurdo.
eu prefiro pensar baseada no que eu vivo em relação às pessoas. posso dizer aqui que não vivo a fase mais feliz da minha vida, que não acho que a vida é só bela ou só feia e que quem acompanha esse blog já deve ter percebido que o momento ainda é de reflexão e reconstrução. acho que não perder a fé nas pessoas é um grande passo quando a fase não é das mais tranquilas, pode significar que algumas coisas ainda tem salvação nessa vida, isso pode parecer dramático demais, mas quem não faz um drama de vez em quando? 
a questão não é o drama, mas os acontecimentos e sentimentos que me levam a chegar nessa conclusão. isso é o que mexe comigo hoje, foram e acho que por um tempo ainda vão ser tantos os dias que o nó na garganta vai aparecer, a vontade de ir embora vai surgir e eu vou me atrapalhar com algumas coisas. só que hoje eu escolhi pela minha capacidade de fé, coisa que eu achava que não existia mais, que tava perdida em algum lugar do mar brabo que anda minha mente. existem algumas coisas que servem como catalizador de vida, acho que em algumas situações a gente fica mais sensível para perceber elas, sei lá, devido às vivências, medos, angustias, ansiedades que vão tomando conta da gente sem pedir licença.
no meio disso tudo eu lembro que não houve nenhum acontecimento específico que me fez acreditar nos seres humanos, não vi ninguém salvando uma vida, não fui salva por ninguém e acho que nesses exemplos eu pude demonstrar que realmente nada de tão grandioso aconteceu. mas em meio a turbulências que aconteceram comigo e com pessoas queridas, esse sentimento de fé na capacidade humana de sermos humanos apareceu. acho que ver pessoas sendo apenas pessoas, assumindo seus erros, dando chances de refazer suas histórias, oportunizando perdão, brigando e estragando relações, falando e se arrependendo, tendo a capacidade de dar mais uma chance pro amor, pro amigo, pra si. acho que quando a gente vê o mundo de forma mais crua é quando a gente consegue sentir que a vida segue e a gente vai junto com ela, as vezes deixando ela nos levar, outras vezes tomando conta dela ou simplesmente sentindo a dureza de alguns momentos e a beleza de outros. sei lá, acho que eu poderia procurar todos os motivos do mundo pra querer acabar com ele ou talvez virar as costas para as pessoas, mas eu acho que seria muito mais dolorido pra mim do que encarar de frente a minha humanidade e os reflexos que ela tem nos outros e sofre dos outros. ninguém disse que crescer seria fácil, mas também nunca me alertaram que poderia ser tão difícil que eu não seria capaz de lidar com isso. 
eu acredito na capacidade humana de sermos humanos, acho que isso resume tudo o que eu quis dizer aqui, isso explica o incomodo de ser humana e a alegria de me reconhecer como tal.

domingo, 31 de julho de 2011

Al lado del camino...


"Me gusta estar a un lado del camino
fumando el humo mientras todo pasa
me gusta abrir los ojos y estar vivo
tener que vérmelas con la resaca
entonces navegar se hace preciso
en barcos que se estrellen en la nada
vivir atormentado de sentido
creo que ésta, sí, es la parte mas pesada
en tiempos donde nadie escucha a nadie
en tiempos donde todos contra todos
en tiempos egístas y mezquinos
en tiempos donde siempre estamos solos
habrá que declararse incompetente
en todas las materias de mercado
habrá que declararse un inocente
o habrá que ser abyecto y desalmado
yo ya no pertenezco a ningún istmo
me considero vivo y enterrado
yo puse las canciones en tu walkman
el tiempo a mi me puso en otro lado
tendré que hacer lo que es y no debido
tendré que hacer el bien y hacer el daño
no olvides que el perdón es lo divino
y errar a veces suele ser humano
no es bueno hacerse de enemigos
que no estén a la altura del conflicto
que piensan que hacen una guerra
y se hacen pis encima como chicos
que rondan por siniestros ministerios
haciendo la parodia del artista
que todo lo que brilla en este mundo
tan sólo les da caspa y les da envidia
yo era un pibe triste y encantado
de Beatles, caña Legui y maravillas
los libros, las canciones y los pianos
el cine, las traiciones, los enigmas
mi padre, la cerveza, las pastillas los misterios el whiskymalo
los óleos, el amor, los escenarios
el hambre, el frío, el crimen, el dinero y mis 10 tías
me hicieron este hombre enreverado
si alguna vez me cruzas por la calle
regálame tu beso y no te aflijas
si ves que estoy pensando en otra cosa
no es nada malo, es que pasó una brisa
la brisa de la muerte enamorada
que ronda como un ángel asesino
mas no te asustes siempre se me pasa
es solo la intuición de mi destino
me gusta estar a un lado del camino
fumando el humo mientras todo pasa
me gusta regresarme del olvido
para acordarme en sueños de mi casa
del chico que jugaba a la pelota
del 49585
nadie nos prometió un jardín de rosas
hablamos del peligro de estar vivo
no vine a divertir a tu familia
mientras el mundo se cae a pedazos
me gusta estar al lado del camino
me gusta sentirte a mi lado
me gusta estar al lado del camino
dormirte cada noche entre mis brazos
al lado del camino
al lado del camino
al lado del camino
es mas entretenido y mas barato
al lado del camino
al lado del camino
Fito Paez

domingo, 24 de julho de 2011

reclamações

Hoje eu acordei com vontade de reclamar da vida e e isso que eu vou fazer!
Eu ando muito chata ultimamente e tô espalhando chatice pelo mundo, não me aguento mais, fazer nada todos os dias me cansa e eu não sei mais o que invetar pra me manter ocupada. Resultado disso tudo, lá vai a Ana encher a cabeça com besteiras e o pior de tudo é que eu fico incomodando as pessoas com essas besteiras!
Então desculpa ai pessoal, mas no momento eu não sou uma boa companhia a não ser que tu também não esteja sendo muito útil e queira incomodar junto comigo.
Eu já fiquei em PF, fui viajar, sai com os amigos, fiquei em casa, vi o clone, li dois livros, assisti uns quantos filmes, toquei violão, guitarra, fiz um música, brinquei com crianças, joguei video-game, comprei roupa, tomei litros de café, caminhei, corri, escrevi aqui, passei um tempo com a família, tomei um trago monstruoso, parei de beber, voltei a beber, mudei meu quarto, estudei, dormi, engordei... O QUE MAIS EU POSSO FAZER PRA ME LIVRAR DESSE TÉDIO QUE É NÃO TER OBRIGAÇÕES?

Pronto reclamei da vida já, agora vou lá tomar chimarrão com o meu pai!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

meu caro amigo...

Hoje é dia de agradecer, meus caros amigos, só o que posso fazer neste dia que inventaram pra gente é dizer muito obrigada!
Agradeço aos que me escutam reclamando da vida, aos que encaram minha idéias malucas, aos que se jogam comigo  nas idéias malucas, aos que me aguentam bebada, aos que me cuidaram bebada, aos que eu cuidei bebados e aos que eu fiz bebada. Obrigada queridos amigos que choram comigo, que discutem, que jogam bastardos inglorious. Obrigada por existirem Gelpis. Agradeço aos amigos dos colegios que eu passei, obrigada por continuarem comigo amigos do notre dame e do integrado. Obrigada aos amigos da faculdade e de outras faculdades.
Agradeço aos amigos que ouviram minha composições, que leram meus textos e disseram a verdade, aos que falaram que tava bom pra não me magoar também.
Tem os amigos que me afetaram pra sempre, obrigada a todos aqueles que infelizmente só vejo uma vez por ano, agradeço aos que me fazem refletir, aos que me ajudam a crescer intelectualmente, aos que escutam com atenção minhas idéias nos grupos de estudo. Agradeço aos amigos de luta por me ajudarem a ver um mundo diferente onde a gente pode sim lutar por o que acreditamos. Obrigada a todos que não cansam de ouvir eu falar da sociedade, da política, do mundo, de sermos humanos, dos nossos erros e acertos. Obrigada colegas que compartilham comigo o conhecimento, agradeço aos que convivem todos os dias comigo, nos dias bons e ruins.
Meus amigos que praticamente nasceram comigo, muito obrigada por tudo!
Obrigada amigos que se afastaram em alguns momentos, eu sei que posso ser insuportável quando quero. Agradeço aos amigos, que já foram amores e continuaram ao meu lado e aqueles amigos que me adotam como filha, obrigada. Amigos de bar, de boêmia, de roda de violão e de rua, obrigada.
Obrigada pelos conselhos, pelos abraços, pelas ligações, por salvarem meus dias entediantes, pelas palavras de incentivo, pelos sermões, pelas cervejas pagas, pelos dias de sol que fizeram alguma coisa legal comigo, por aguentarem minha indecisão, pelas risadas, pelos beijos, pelas músicas... por TUDO.
São tantos os meus amigos, cada um de um jeito e todos levam consigo um pouquinho de mim e deixam um pouco deles comigo!

terça-feira, 19 de julho de 2011

roda viva...

Tem dias que nada segura a angústia que vai tomando conta do peito, vai se espalhando pelo corpo de uma maneira absurdamente humana. Acho que a minha começa na cabeça, surge entre as memórias, as boas e as ruins, até sair pelo corpo todo. Ataca a garganta, como se ficasse ali instalada decidindo tudo que pode ou não entrar. As cordas vocais são responsáveis pelas palavras que saem meio desajeitadas, quase sem querer. Quando sentimos no peito a coisa toda fica meio estranha, a gente sente tudo o que não consegue definir, uma mistura de falta de ar com aperto, sei lá. O último estágio corporal da angustia fica nas mãos, elas tornam-se inquietas e começam a suar sem que a gente tenha controle sobre isso. Angústia toma conta dos sonhos, dos pensamentos, dos dias, das noites, das horas bobas, das horas tensas... angústia normalmente surge depois de ações intensas, acho que ela acaba sendo a consequência dessas ações, porque ela vem na mesma intesidade. Angústia desequilibra, tortura, incomoda, murcha, mas ela não ganha sempre, aprender a lidar com a angústia é algo complicado, só que não é impossível. Ações humanas, feitas por humanos, acabam por sensações humanas e essa deve ser a lei, quem sabe?
As vezes o melhor é carregar ela junto, só pra servir de alerta de até aonde a gente pode ir.O negócio é aprender a não dar chance pra angústia crescer, porque quando ela aumenta despedaça. Vem angústia, junta meus pedaços e me acompanha, mas me deixa respirar um pouco, me permita não me torturar tanto. Que eu me permita errar, mas que eu não seja tola pra repetir os mesmos erros, dos mesmos jeitos. Porque daí sim ela vem e me pega em cheio, depois nada segura essa safada da angústia!
"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo"

terça-feira, 12 de julho de 2011

Junto as mão ao meu redor...

Esses dias uma amiga disse "Ana, escreve!" mas eu não tinha o que escrever. Nem sei direito o porque de escrever aqui as coisas que passam na minha cabeça, pra que tanta exposição? Deve ser necessidade de alguma coisa que eu ainda não sei dizer, mas com certeza algo em mim sabe o que é.
Férias é um período que me faz realmente inútil, na verdade essa falta de compromissos que me faz sentir isso, mas não vou falar de férias hoje. Vou falar de uma vontade que me deu hoje a tarde enquanto eu me perdia entre minhas cordas e acordes mal feitos. Bateu um vontade de abraço, percebi que muitas das pessoas que eu gosto estão longe dos meus braços e fiquei um pouco contrariada com isso. Então eu lembrei de um texto que dizem ser de Vinícius, mas não posso garantir; Sendo ou não do poeta eu reli ele hoje, acho que pra hoje ele faz sentido pra mim...


"De repente deu vontade de um abraço...
Uma vontade de entrelaço, de proximidade…
de amizade… sei lá…
Talvez um aconchego que enfatize a vida e
amenize as dores...
Que fale sobre os amores,
que seja teimoso e ao mesmo tempo forte.
Deu vontade de poder rever saudade de um abraço.
Um abraço que eternize o tempo e preencha todo espaço
mas que faça lembrar do carinho, que surge devagarzinho
da magia da união dos corpos, das auras… sei lá…
Lembrar do calor das mãos
acariciando as costas a dizer… "estou aqui."
Lembrar do trançar dos braços envolventes
e seguros afirmando "estou com você…"
Lembrar da transfusão de forças
com a suavidade do momento... sei lá..
abraço... abraço... abraço...
abraço... abraço... abraço...
abraço... abraço... abraço...
O que importa é a magia deste abraço!
A fusão de energia que harmoniza,
integra tudo, e que se traduz
no cosmo, no tempo e no espaço.
Só sei que agora deu vontade desse abraço!
Que afaste toda e qualquer angústia
 Que desperte a lágrima da alegria, e acalme o coração.
Que traduza a amizade, o amor e a emoção.
E para um abraço assim só pude pensar em você...
nessa sua energia, nessa sua sensibilidade
que sabe entender o por quê...
dessa vontade desse abraço."
Vinicius De Moraes

sábado, 2 de julho de 2011

Trainspotting – Sem Limites

Falta de inspiração e assuntos pra tratar aqui!
Mas pra não morrer, vai ai uma reflexão sobre o filme Trainspotting, feito a duas cabeças e quatro mãos por mim e o meu irmão Arthur.



“Lust for life”, tesão pela vida, este é o nome da música tema do segundo filme do diretor Danny Boyle, Trainspotting – Sem Limites, que é uma adaptação do livro homônimo de Irvine Welsh e retrata uma geração e uma época onde as mudanças sociais causavam uma estranheza na juventude. O que aconteceria com a vida depois que as mudanças já haviam acontecido, uma época pós-transformações ocorridas principalmente nos anos 70. Viver já tomava proporções diferentes, o prazer, a liberdade, o tesão pela vida passava a ser uma busca constante e intimista. Foi nas drogas que os protagonistas dessa história encontraram uma forma de viver intensamente o que na vida real eles não achavam muita intensidade. Renegando o que era estabelecido na sociedade como objetivos de vida (escolher um emprego, uma casa,uma família, uma televisão grande). Eles escolheram viver aventuras regadas a drogas, roubos e uma busca por recuperação que era atravessada pela necessidade de continuar usando drogas.
O filme retrata a amizade de jovens dependentes químicos, mas usa uma linguagem realista, sem preconceito em relação ao tema. A Heroína é a preferida do grupo, a sensação de ser melhor que o sexo, causa neles um momento de intensidade de vida, que vive camuflada a cada pico. Existir passa a ser apenas um momento de efeito da droga, nas tentativas de reabilitação a dificuldade de deparar-se com a realidade que a abstinência causa faz com que o protagonista Renton se encontre com ele mesmo, as alucinações, os medos, os fantasmas que perseguem o rapaz, significam um momento de transição na vida dele, onde enfrentar a realidade nem um pouco intensa ou interessante aumenta a necessidade de fuga e a vontade da droga.
Porém, Trainspotting não é um filme que tem a droga como figura central, a história central do filme é a forma como Renton e seus amigos levam a vida, encaram e procuram viver. Em uma Escócia “fodida”, como eles mesmos dizem, a necessidade de tornar as coisas mais interessantes acabam tornando o grupo interessado em buscar prazer em atividades reprimidas pela sociedade. “I chose no to choose life... I chose something else. And the reasons? There are no reasons.” Não haver razões para buscar uma vida dentro das regras ou fora delas, nos faz refletir sobre o porquê temos que viver de certa forma, o que a vida espera de nós quando nem nós mesmos sabemos o que esperar dela. O discurso inicial de Renton deixa marcado quais os motivos que levam o grupo a desenvolver a história da maneia como se seguiu, é uma realidade na juventude, o não saber o que fazer da vida ou como vive-la. Tommy é um exemplo disso, ele passa a usar drogas após ser abandonado pela namorada, sua vida perde o sentido quando ele se separa de uma pessoa, o vazio que a vida tem para esse personagem reflete no que acontece com ele, a morte acaba sendo a solução para uma vida já sem sentido, mas essa é a “solução” de todas as vidas, talvez a maneira como o personagem levou a dele tenha acelerado este processo, mas o final, de qualquer jeito, seria o mesmo. Então a forma de viver acaba sendo uma questão de escolha de como vai passar o tempo até a morte. São essas as questões principais do filme, a não condenação ou a apologia as drogas são questões que podem estar implícitas no filme, se o espectador não entender o verdadeiro caminho que o filme segue, as questões que ele envolve são muito mais existenciais do que meramente junkies. São questões que acabam levando o grupo para o desfecho do filme onde, Renton agora em Londres e recuperado das drogas não nega ajuda aos amigos que continuam levando as mesmas vidas dos tempos da Escócia, assim ele se envolve novamente com a vida que tinha antes, desta vez com uma distância das drogas, mas não com a falta de necessidade de viver intensamente fora dos padrões que já estava vivendo.
Ser um cara mau talvez não fosse a explicação mais apropriada para o final do filme. Roubar dos próprios amigos, trair aqueles que conviveram e compartilharam das mesmas questões existenciais que ele, talvez não tenha sido um ato de maldade, mas uma necessidade de sentir que ainda era possível viver de uma forma inconseqüente ou apenas mais constante do que o normal. Pode ser que tenha sido a última vez, que depois disto ele aceitaria escolher um trabalho, uma família, uma maquina de lavar roupas. Ou talvez ele apenas estava escolhendo uma vida, sem precisar de alguma razão, até quando ele escolhesse mudar de novo as suas escolhas.
Trainspotting – Sem Limites é um filme que envolve o espectador, uma história rápida que mostra a dinâmica de uma geração. Controverso em seu lançamento, o filme, hoje, é merecidamente considerado um dos melhores filmes dos anos 90, não somente pelo lado psicológico/existencial, já tratados, mas também pela surpreendente e inovadora estética e forma de narração não linear que o diretor imprimiu ao trabalho. A estética escolhida para o filme aliada a direção de arte nos mostra um mundo de contrastes desenvolvidos para causar uma reação no publico, as cores aparecem com uma forte presença para definir e diferenciar o certo do errado, a sanidade do delírio. Somado a isto a decisão de Boyle e o roteirista John Hodge em não tomar partido moral sobre os eventos ocorridos no filme (como o próprio Boyle disse em resposta a algumas criticas na época do lançamento: “Não estamos aqui para julgar Renton e seus amigos, estamos aqui apenas para assistir, enquanto suas vidas se reduzem a nada.”) nos jogam novamente dentro das questões existenciais mostrando que a narrativa, assim como o uso da droga não é linear, mas “circular”, no começo do filme Renton não ia a lugar algum, pois sempre retornava as drogas, quando as deixou “de vez”, seguiu em frente. Este aspecto circular esta presente em toda a película, e nos remete ao titulo, pois a gíria escocesa trainspotting significa, segundo Welsh, uma atividade sem sentido, algo que é, aparentemente, uma total perda de tempo (você não chegará a lugar algum retornando sempre ao ponto de partida, então onde esta o sentido?) Estas características, porém, são grandes atributos da obra. Este ótimo filme faz jus ao status que possui e é recomendável para quem gosta de se envolver em um mundo que parece estar distante, mas que trata de um pouco de todos nós.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Há meros devaneios tolos a me torturar

Curiosidade mata!
Mata sim, por dentro. Não sei se tu já se sentiu curioso em relação a alguém, aquela curiosidade de necessidade, que consome por dentro porque gera uma ansiedade difícil de lidar. Um querer conhecer a pessoa sem saber muito bem aonde quer chegar, simplesmente querer saber o que pensa, como age, como vive, o que já viveu, mas não por mera vontade de saber pra falar por aí, mas sim porque acredita que pode crescer com isso, construir uma relação a partir disso. Em âmbito geral as relações hoje são tão simplistas, basicamente ou tu conhece alguém com a intenção de querer algo sexual ou/e amoroso ou porque existem interesses profissionais ou financeiros. Hoje as pessoas não se permitem conhecer alguém para criar um vinculo para se ter um vinculo, só isso. O que pode sair disso, é o que menos importa no momento. Conhecer para estabelecer relações de apenas querer bem. Eu acredito que isso ainda seja possível, eu tenho sede de conhecer pessoas, mas muitas vezes eu esbarro no medo. Acho que ele é o elemento principal nessas relações estabelecidas, existe muito medo, as pessoas não se permitem serem conhecidas, assim como muitas vezes não conseguem conhecer porque o medo é mais forte do que a vontade de conversar. Isso incomoda, mas no fundo isso tem seus porquês de existir, o medo pode passar segurança. Não é fácil se mostrar pra alguém que tu ainda não conhece, isso exige recursos internos importantes, que as vezes ultrapassam a vontade.
Conhecer aos poucos pode ser a melhor opção, ir medindo o quanto a gente pode ir entrando na vida do outro e o quanto o outro quer que a gente o conheça. Ouvi uma vez uma frase que marcou muito a minha vida: "É uma ansiedade maluca tu conhecer pessoas maravilhosas e tu não saber o dia que vai desencontrar. Quando tu encontra alguém tu encontra um abismo também, assim como quando tu encontra contigo mesmo. Tem um abismo lá, é importante olhar, é importante mergulhar nele, mas dá uma ansiedade antes de fazer isso e como fazer isso?!"
Sempre que penso no outro, essa frase me salta à mente, acho que é isso mesmo pessoas são singulares e isso que torna os seres humanos interessantes. É nessa singularidade humana que residem as emoções que a curiosidade se liga, acredito que a gente cria no outro um querer conhecer, mas isso não significa que é uma tarefa fácil. São tantas coisas envolvidas, ansiedades motivadas por inúmeros sentimentos. Conhecer pessoas não é simples, não é superficial ao ponto de acabar em um negócio ou em uma cama qualquer, pelo menos não deveria ser assim. Conhecer realmente alguém implica em investimento e quando a gente consegue achar força pra isso as surpresas são elementos motivadores. Concordo que muitas situações a intenção é sim apenas acabar em um negócio bem feito, em uma cama qualquer, satisfazer o desejo de consumo, seja ele sexual, emocional, profissional, sei lá são tantos os interesses que movem as pessoas. Mas acredito que sempre, conhecer pessoas é uma tarefa que deve ser executada com cuidado. Não se pode brincar, isso envolve além de ti um outro, que muitas vezes ainda não é possível entender na sua complexidade, talvez entender alguém em sua complexidade seja impossível. Acho que sermos abismos significa sermos humanos, para Marx, seres humanos são a soma total de suas relações. Acredito que o centro dessa história toda, que foi alongada nesses devaneios meus é que somos seres que se relacionam, só é possível uma cria humana virar um SER humano de fato porque existe investimento de um outro, isso nos torna pessoas e pessoas são seres de relação.
A curiosidade mata, ela nos instiga a querer se relacionar, entretanto ela nos joga num "mar" de ansiedade e medo, talvez porque nunca aprendemos a nos relacionar, apenas fomos nos relacionando por uma necessidade de sobrevivência. Pensar nas relações pode não ser uma tarefa fácil, talvez isso mova as pessoas para um relacionar-se superficial. Somos todos abismos e mergulhar em um abismo necessita de vontade e coragem, a gente não sabe o que tem do outro lado e pode ser que a gente nunca descubra.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Dia de Caio



Um dia cansativo, sem tempo pra escrever aqui então salvo os olhos de vocês com um texto emocionante do C.F.A. 
Que eu nunca consiga não dizer que gosto das pessoas! Pai e Mãe, crescer não é fácil, mas pode ser doce!








"São Paulo, 12 de agosto de 1987
Querida mãe, querido pai,
Não sei mais conviver com as pessoas. Tenho medo de uma casa cheia de pais e mães e irmãos e sobrinhos e cunhados e cunhadas. Tenho vivido tão só durante tantos – quase 40 – anos. Devo estar acostumado.

Dormir 24 horas foi a maneira mais delicada que encontrei de não perturbar o equilíbrio de vocês – que é muito delicado. E também de não perturbar o meu próprio equilíbrio – que é tão ou mais delicado.
Estou me transformando aos poucos num ser humano meio viciado em solidão. E que só sabe escrever. Não sei mais falar, abraçar, dar beijos, dizer coisas aparentemente simples como "eu gosto de você". Gosto de mim. Acho que é o destino dos escritores. E tenho pensado que, mais do que qualquer outra coisa, sou um escritor. Uma pessoa que escreve sobre a vida – como quem olha de uma janela – mas não consegue vivê-la.

Amo vocês como quem escreve para uma ficção: sem conseguir dizer nem mostrar isso. O que sobra é o áspero do gesto, a secura da palavra. Por trás disso, há muito amor. Amor louco – todas as pessoas são loucas, inclusive nós; amor encabulado – nós, da fronteira com a Argentina, somos especialmente encabulados. Mas amor de verdade. Perdoem o silêncio, o sono, a rispidez, a solidão. Está ficando tarde, e eu tenho medo de ter desaprendido o jeito. É muito difícil ficar adulto.

Amo vocês, seu filho,
Caio"

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Dia de Fernando Pessoa!

      TABACARIA
    Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada.  À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.  Janelas do meu quarto,  Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é (E se soubessem quem é, o que saberiam?),  Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,  Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,  Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,  Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,  Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.  Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.  Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,  E não tivesse mais irmandade com as coisas  Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua  A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada  De dentro da minha cabeça,  E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.  Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.  Estou hoje dividido entre a lealdade que devo  À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,  E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.  Falhei em tudo.  Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada. A aprendizagem que me deram, Desci dela pela janela das traseiras da casa.  Fui até ao campo com grandes propósitos.  Mas lá encontrei só ervas e árvores,  E quando havia gente era igual à outra.  Saio da janela, sento-me numa cadeira.  Em que hei de pensar? Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser o que penso?  Mas penso tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!  Gênio?  Neste momento  Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,  E a história não marcará, quem sabe?, nem um,  Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.  Não, não creio em mim.  Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!  Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?  Não, nem em mim... Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo  Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando? Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas - Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,  E quem sabe se realizáveis, Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?  O mundo é para quem nasce para o conquistar  E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão. Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.  Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,  Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.  Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,  Ainda que não more nela;  Serei sempre o que não nasceu para isso; Serei sempre só o que tinha qualidades; Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,  E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,  E ouviu a voz de Deus num poço tapado. Crer em mim? Não, nem em nada.  Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente  O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,  E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha. Escravos cardíacos das estrelas,  Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama; Mas acordamos e ele é opaco,  Levantamo-nos e ele é alheio, Saímos de casa e ele é a terra inteira, Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido. (Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria. Come, pequena suja, come! Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes! Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho, Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.) Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei  A caligrafia rápida destes versos,  Pórtico partido para o Impossível.  Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas, Nobre ao menos no gesto largo com que atiro  A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas, E fico em casa sem camisa.  (Tu que consolas, que não existes e por isso consolas, Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva, Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta, Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida, Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua, Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais, Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê - Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire! Meu coração é um balde despejado. Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco A mim mesmo e não encontro nada. Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta. Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam, Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam, Vejo os cães que também existem, E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo, E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)  Vivi, estudei, amei e até cri,  E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.  Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,  E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses  (Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);  Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo  E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente  Fiz de mim o que não soube  E o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado.  Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara.  Quando a tirei e me vi ao espelho,  Já tinha envelhecido.  Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado. Deitei fora a máscara e dormi no vestiário Como um cão tolerado pela gerência  Por ser inofensivo  E vou escrever esta história para provar que sou sublime.  Essência musical dos meus versos inúteis, Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse, E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte, Calcando aos pés a consciência de estar existindo, Como um tapete em que um bêbado tropeça  Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.  Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.  Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada  E com o desconforto da alma mal-entendendo.  Ele morrerá e eu morrerei.  Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.  A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também. Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,  E a língua em que foram escritos os versos.  Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.  Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas, Sempre uma coisa defronte da outra,  Sempre uma coisa tão inútil como a outra,  Sempre o impossível tão estúpido como o real, Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície, Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.  Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?) E a realidade plausível cai de repente em cima de mim. Semiergo-me enérgico, convencido, humano,  E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário. Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los  E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.  Sigo o fumo como uma rota própria,  E gozo, num momento sensitivo e competente, A libertação de todas as especulações  E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.  Depois deito-me para trás na cadeira  E continuo fumando.  Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando. (Se eu casasse com a filha da minha lavadeira Talvez fosse feliz.) Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.  O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).  Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.  (O Dono da Tabacaria chegou à porta.)  Como por um instinto divino o  Esteves voltou-se e viu-me.  Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo  Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
    Álvaro de Campos, 15-1-1928

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Anotações

Assisti um vídeo que me mobilizou bastante, muitas coisas ultimamente vem mexendo com um lado meu que eu tinha acomodado um pouco. O vídeo era uma conversa de alguns jovens com o escritor Eduardo Galeano.
Isso me fez voltar ao começo da faculdade, quando eu quase desisti do curso porque queria entender quando que a gente deixava o "pedestal do saber" pra poder encostar no sofrimento de forma que eu também me sentisse parte do mundo, não dona dele. Eu era inocente, mas mesmo assim consegui achar o meu lugar no meio disso tudo, encontrar pessoas com vontade de pensar sobre isso e pude amadurecer meu olhar em relação aos diversos fazer e saberes, não só psicológicos, mas também humanos. Minha humanidade foi transformada, continua sendo transformada, mas as vezes a gente cansa um pouco e precisa de algo que ajude a puxar o ar pra continuar tentando.
Resolvi anotar o que eu senti ao ver e depois refletindo sobre o vídeo talvez como uma forma de memória pra poder reler quando estiver perdendo o folego ou simplesmente porque eu não tive a oportunidade de conversar com ninguém sobre isso.
Como eu não tinha com quem conversar decidi falar com o próprio Galeano e dando uma lida em "A escola do mundo ao avesso" troquei algumas idéias com ele, vi que em 1998 o tal "mundo as avessas" já fazia sentido. "O mundo tal qual é, com a esquerda na direita, o umbigo nas costas e a cabeça nos pés." tá ai, esse é o mundo que nós temos hoje, aquele mundo de merda que ele fala no vídeo. Esse mundo de merda tá se espalhando e quando a gente anda perto da sujeira é quase impossível que ela não respingue na gente. Quando um pouquinho dessa merda toda chega em nós é preciso refletir sobre isso, para mudar alguma coisa dentro de um sistema é preciso conhecer o sistema e quando a gente chega perto descobre que as coisas são sujas mesmo. A questão maior é como lidar com isso, quando a gente escolhe sentir além de racionalizar as coisas ficam perigosas, pra nós!
Acho que acabei me atrapalhando um pouco, como dizem "peguei nojo!". Peguei mesmo, mas acabei me acomodando e não fazendo a minha parte como deveria. É complicado ser jovem que pensa politicamente em um país, em uma sociedade, que afirma que jovem que pensa em política é chato, que pregam por aí que a juventude que luta não existe mais porque isso não dá mais certo, que hoje temos uma democracia que não permite que a luta na rua faça sentido. Mas o Galeano deu uma boa resposta, não temos que pensar no que vai acontecer depois, temos que pensar no que estamos fazendo AGORA. Isso me pegou, mas me deu ânimo ao mesmo tempo, eu parei de fazer porque? (sim esse é o momento de olhar pro horizonte e fazer cara de sábio)
Acho que essas dúvidas que eu tenho fazem parte de um tentar ver com os meus olhos e isso é bom, pelo menos eu acho. Não é fácil querer mexer nessas coisas, é muito mais fácil escolher pensar pelo que me dizem que é melhor pensar, pode ser um erro eu afirmar isso, o que eu sei sobre o que passa na vida dos outros?
Mas é possível ver que isso existe, quando a gente vê pessoas mudando de opinião de forma tão rápida que tudo se explica quando passa no jornal que o partido de esquerda fez união com o de direita ou que rachou por brigas de vertentes, decepciona um pouco, devo ser ingenua ainda, assim como eu era no inicio da faculdade. Mas eu prefiro ser assim, questionar o meu próprio pensamento não me assusta e acho que me ajuda a crescer.
Acredito que as coisas podem ser diferentes e acho que a gente pode ajudar a mudar isso, cada um muda alguma coisa no mundo, dentro da sua alçada e acho que assim que é o processo de evolução da sociedade. Pode ser clichê, não me importo em repetir o que a gente ouve por aí a tanto tempo, quem sabe de tanto falar as pessoas comecem a agir?
Sejamos seres humanos completos, não apenas indivíduos(alguém que é um), mas pessoas(ser de relação).  Sei que não é fácil, olha pra mim aqui desabafando em forma de anotações, mas acredito que é possível. Ah, não vamos ficar mais lindos ou bonzinhos com isso, somos HUMANOS!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

para as conversas de ônibus do dia de hoje, para élvis bonini...

meio sem querer eu percebi que hoje não leio mais as mesmas coisas, passou o tempo em que a vida se resumia à poesia, nouvelle vague falava por mim no cinema e los hermanos cantavam exatamente o que eu sentia. isso assusta, parece que já não me reconheço no que eu sou, mas o que será mesmo que eu sou?
acho que não me tornei, mas continuei sendo eu mesma. meus filmes preferidos ainda são franceses, minha banda ainda é a mesma, só que hoje tocam diferente. não uso mais eles pra fugir, mas pra me enfrentar. 
se isso é bom só o tempo vai dizer o que sei é que não é mal, só um pouquinho diferente. das coisas que deixei de ler posso dizer que lembro muito bem, acho que um dia desses eu tiro da estante e releio para ver como vai bater. das que ainda nem comecei, já sinto vontade. 
ninguém me disse que ia ser fácil, mas fugir já não é mais uma escolha. que a arte me guie e me faça crescer, chega de usar ela pra me esconder!

sábado, 4 de junho de 2011

Girar, girar, sem querer parar

Do alto da roda gigante ele podia ver a cidade, lá em baixo iluminada e silenciosa. O parque já havia fechado, mas ele continuava lá sentado, sentia-se confortável e seguro, embora não gostasse do orvalho da noite que deixava suas roupas úmidas. Com a mão esquerda acariciava uma fotografia antiga, tinha os olhos atentos à foto, como se quisesse mergulhar no papel. Repetia em voz alta, já que ninguém podia ouvi-lo lá de cima, uma canção antiga que escutava na mocidade. Depois de repetir o refrão algumas vezes, calou-se. O silêncio era interrompido pelo barulho dos insetos e pequenos animais que rondavam o parque.
As luzes da cidade foram apagando-se, o orvalho da noite abria espaço para um tímido sol que aparecia por entre as nuvens. Lá de cima ele podia ver o alvorecer. Em pouco tempo a cidade já mostrava sinais de movimentação, alguns homens saíam de bicicleta em direção à obra de reforma da igreja, as crianças com suas mochilas entravam no ônibus e algumas mulheres conversavam no portão. O ritmo da pequena cidade era sempre o mesmo, calmo e pacato.
Era incrível a visão que o homem tinha lá do alto, a roda gigante proporcionava uma sensação de grandeza, ele sentia-se mais perto do céu e com o poder de ver quase tudo que acontecia na terra, sem que as pessoas ou os pássaros o notassem. Olhava a vida de uma forma que ela parecia distante dele o fazia ficar em silêncio, como espectador da realidade.
O parque só funcionava à noite, ele teria que ficar lá em cima até o brinquedo começar a girar. Ele sabia que a espera seria longa e gostava disso, gostava também de girar, sabia que assim como a roda girava sem sair do lugar a cada volta que ela dava uma sensação diferente proporcionava, por isso girava, girava sem querer parar. Puxou um maço de cigarros do bolso, acendeu um fósforo e deu uma comprida tragada. Ao soltar a fumaça bateu na caixinha o antigo samba da noite anterior, seus olhos encheram-se de lágrimas, o cigarro sendo seguro pelos lábios não permitia que o som saísse firme de sua boca, mas as lagrimas escorriam leves de seus olhos. Ele não parava de cantar, sua voz não estava embargada, agora já sem o cigarro nos lábios, ela soava mais forte a cada palavra. Repetiu a música muitas vezes, as lágrimas molhavam o casaco ainda úmido do sereno, seu rosto parecia mais limpo, sua alma mais leve.
Observando as pessoas que passavam lá na rua ele desconfiava que o tempo andava rápido, já havia passado do meio dia. Puxou novamente do bolso a fotografia, olhou-a por alguns minutos, dessa vez com menos atenção. Os seus olhos esboçavam alegria e sua boca um tímido sorriso. Ajeitou-se no banco apoiando suas costas no parapeito da cabine, ela balançava um pouco, mas ele não pareceu se importar com isso. Parecia estar alegre, com o corpo relaxado e os olhos fechados, balançava a foto no ar, sentia o vento que seus movimentos produziam, sussurrava baixinho que podia voar.
Ele estava sozinho, distante e feliz. Podia ser quem ele quisesse, preferiu ser o que ele era. Acendeu um cigarro e olhou para baixo, como se precisasse certificar-se da distância que ele se encontra do chão. Guardou a fotografia no bolso, tirou o casaco e amarrou-o na cabeça, o sol da tarde ardia forte. O calor foi o único desconforto, não sentia sede, fome ou sono, apenas o ardor do sol em seu rosto.
O sol começava a esconder-se no horizonte, o homem que olhava novamente atento a fotografia não podia perceber que o pôr do sol se aproximava. Com a mão direita segurava a foto, pela primeira vez a luz permitia que ela fosse vista com clareza. Três homens, lado a lado, todos muito jovens. Ele pegou seu maço de cigarros, acendeu um fósforo e levou até o cigarro que estava em sua boca. Quando soltou a fumaça, repousou o braço sobre a perna, as cinzas caíram em cima do sapato surrado que ele calçava. Deu mais uma tragada e jogou o cigarro fora. Com a mão esquerda rasgou a foto, ficou com dois pedaços de papel na mão, em um deles encontravam-se duas figuras, no outro apenas uma. Rasgou em cinco pedaços o papel que tinha apenas um homem e os arremessou para fora da roda gigante. Ficou acompanhando os pedacinhos de papel que flutuavam no ar até que caíssem no chão.
O tempo havia passado, a noite chegara e trouxe com ela muitas pessoas ao parque. A roda começou a girar, quando o monitor do brinquedo deparou-se com aquele homem na cabine levou um susto, deixou que a roda completasse mais uma volta, então parou e pediu para que ele se retirasse. Muito surpreso indagou-o como ele tinha parado lá em cima, mas o homem não respondeu. Saiu do brinquedo, pegou a mão do monitor, entregou-lhe a outra metade da fotografia e saiu andando pelo parque, até sumir em meio a multidão. O funcionário do parque não entendeu nada do que estava acontecendo. Segurou o pedaço da foto, nela havia dois homens bem vestidos com ternos e chapéus bem alinhados, a fotografia em preto e branco estava amarelada por causa do tempo. O garoto virou o papel, no verso bem ao canto tinha uma inscrição, atentamente ele decifrou o que estava escrito. “Amigo, devo a ti a minha vida. São Paulo 1968.”
O monitor ficou parado olhando atentamente a fotografia, nenhum dos homens parecia com aquele que havia saído da roda gigante. Sem saber como ele havia parado lá em cima o garoto esboçou um tímido sorriso, guardou a foto no bolso, apertou o botão e ligou a roda gigante. Ela começou a girar, girar, sem querer parar.

terça-feira, 31 de maio de 2011

É o que tem pra hoje

Hoje eu não vim falar de mim, eu quero falar de ti. Sim, tu aí que olha pra mim com esses olhos duros que penetram fundo em um coração confuso. Sem piedade chega transformando tudo o que encontra pela frente, coração, rosto, mente... Esses olhos malignos, que de tão doces me dão medo.
Chega de ser o que mobiliza tantas coisas boas e ruins, hoje eu estou fechando os meus olhos pra ti.
Vem angústia, vem comigo, junta os meus pedaços e me acompanha. Pra ti eu deixo apenas um afago nos cabelos e um beijo na testa. Vai meu bem, não és mais meu.
Vou embora, preciso ser alguém longe desse olhar, não aguento mais ter calafrios quando meus olhos te encontram. Eu estou bem, espero que estejas também e isso é o que tem pra hoje, amanhã eu posso achar alguém!

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Acho que eu poderia ter escrito isso, mas o Caio já escreveu, o momento dele era parecido com o meu, mas os elementos eram diferentes. Crescer assusta, aquele nó na garganta, o medinho de não saber nem o que ou como fazer as coisas. A gente só percebe que tá ficando adulto quando a gente sente muitas coisas e isso as vezes dói, acho que é amadurecimento que tá chegando.


"Amo vocês como quem escreve para uma ficção: sem conseguir dizer nem mostrar isso. O que sobra é o áspero do gesto, a secura da palavra. Por trás disso, há muito amor. Amor louco – todas as pessoas são loucas, inclusive nós; amor encabulado – nós, da fronteira com a Argentina, somos especialmente encabulados. Mas amor de verdade. Perdoem o silêncio, o sono, a rispidez, a solidão. Está ficando tarde, e eu tenho medo de ter desaprendido o jeito. É muito difícil ficar adulto.

Amo vocês, seu filho,
Caio"

terça-feira, 24 de maio de 2011

Hoje fui arrumar meus livros na estante nova, tava uma confusão, até que um deles caiu no chão e ficou lá aberto, meio amassado. Quando fui pega-lo me dei conta de que livro se tratava, "Uivo e outros poemas" do Allen Ginsberg. Um gênio! Mas o que mais mexeu comigo foi o poema da página 63, foi nessa que ele abriu na hora que encontrou o chão, um poema que eu já tinha lido algumas vezes, "Canção".
Bem no dia do aniversário do judeu Dylan, cai quase do céu um poema do Ginsberg, poema que encaixou muito bem pra mim, pelo menos pra mim do dia de hoje!

Canção



O peso do mundo 
é o amor. 
Sob o fardo 
da solidão, 
sob o fardo 
da insatisfação 


o peso 
o peso que carregamos 
é o amor. 


Quem poderia negá-lo? 
Em sonhos 
nos toca 
o corpo, 
em pensamentos 
constrói 
um milagre, 
na imaginação 
aflige-se 
até tornar-se 
humano - 


sai para fora do coração 
ardendo de pureza - 


pois o fardo da vida 
é o amor, 


mas nós carregamos o peso 
cansados 
e assim temos que descansar 
nos braços do amor 
finalmente 
temos que descansar nos braços 
do amor. 


Nenhum descanso 
sem amor, 
nenhum sono 
sem sonhos 
de amor - 
quer esteja eu louco ou frio, 
obcecado por anjos 
ou por máquinas, 
o último desejo 
é o amor 
- não pode ser amargo 
não pode ser negado 
não pode ser contigo 
quando negado: 


o peso é demasiado 
- deve dar-se 
sem nada de volta 
assim como o pensamento 
é dado 
na solidão 
em toda a excelência 
do seu excesso. 


Os corpos quentes 
brilham juntos 
na escuridão, 
a mão se move 
para o centro 
da carne, 
a pele treme 
na felicidade 
e a alma sobe 
feliz até o olho - 


sim, sim, 
é isso que 
eu queria, 
eu sempre quis, 
eu sempre quis 
voltar 
ao corpo 
em que nasci.