sexta-feira, 4 de março de 2011

Quinquilharias do antigo blog parte IV

Descobri que tem gente que lê isso aqui e que gosta! hahaha
Por isso mais um dos antigos, da mesma época do outro e a mesma coisa de sempre.







Cinema mudo


"Amor sem palavras, cinema mudo.”


Ela chegou na festa, calça branca de um tecido leve , uma blusa azul e casaco jeans, que davam um ar de descontração. Procurou o lugar menos iluminado do salão, puxou uma cadeira, debruçou-se na mesa e alguém lhe deu um copo cheio de cerveja. Bebeu o primeiro gole, a bebida parecia entrar em seu intimo que resfriava seu corpo provocando arrepios, mas ela gostava da sensação. Naquela noite tudo o que ela queria eram novas sensações, estava à procura de alguma coisa, mas não sabia bem o que procurava.
Sempre foi muito comunicativa, gostava de estar com os amigos batendo papo, só que ultimamente ela não andava nem um pouco entusiasmada para isso. As pessoas chegavam perto da mesa e puxavam assuntos supérfluos como, a vida alheia, faculdade, festas, mas ela apenas respondia por educação com um sim ou não, e às vezes um, pois é. Talvez fosse tristeza, ansiedade por alguma coisa que não sabia o que, ou apenas vontade de submergir, ali mesmo naquela cadeira e esquecer todos os assuntos desinteressantes que estavam sendo sussurrados aos seus ouvidos. Na verdade estava cansada com o modo em que levava sua vida, desatenta com a vida de seus amigos e desleixada consigo mesma. Ela queria sentir-se completa, mas alguma coisa impedia que isso acontecesse. Tentava se convencer que era apenas uma neurose boba que passaria assim que bebesse mais umas cervejas e se integrasse ao pessoal, que dançava no meio do salão, um rock antigo que não permitia que alguém ficasse parado.

Continuou a beber, quando menos esperava foi tirada para dançar.

Ele era um rapaz alto, moreno, vestia calças jeans rasgadas e uma camiseta verde, não usava nem óculos ou chapéu. Não conhecia muitas pessoas na festa, nem sabia como havia parado lá. Era mais um desses garotos quietos que aparecem nas festas para não se sentirem deslocados do mundo em que vive, na verdade preferia ficar em casa jogando vídeo-game ou lendo um livro interessante. Uma pessoa tímida, de poucos amigos, pouco comunicativa que bebia de vez em quando, não gostava de fumar e escutava música clássica. Nunca se dava bem com as garotas, talvez por ser magrelo, barba por fazer e cabelo bagunçado. Sabia que o seu maior inimigo em relação às mulheres sempre foi seu jeito tímido, mas não sabia como ser diferente.
Acabou entrando na festa com a intenção de modificar seu roteiro, ao contrário do que esperava estava com um cigarro aceso na mão, mas não havia bebido nada. Avistou de longe uma garota de cabelos longos que usava uma calça branca e parecia meio deslocada do resto da festa. Não sabe como ou porque, mas viu nela alguma coisa que iria ajudá-lo. Levantou-se e foi dirigindo-se a parte mais escura da festa, foi afastando as cadeiras e mesas que estavam em seu caminho. Chegou perto da última mesa do salão, sentou-se ao lado da garota das calças brancas, ela parecia distraída, não havia notado a presença dele ainda. Pegou na mão da moça e a chamou para dançar.

Sem pensar muito no que estava fazendo ela foi se levantando e os dois começaram a dançar ali mesmo, na parte escura da festa, onde poucas pessoas poderiam vê-los.
Ele parecia confuso com o que acabara de fazer, nunca imaginou tirar uma menina para dançar, nunca dançava muito, ficava timidamente ensaiando uns batuques das músicas que ouvia.
Ela estava assustada, nem havia notado a presença do garoto quando notou que já estava dançando com ele, a música alta e agitada não a deixava pensar direito, foi deixando-se levar pela melodia e pelos braços do rapaz misterioso.

A música acabou ela não sabia o que fazer, ele a abraçou. Ele sabia que alguma coisa estava errada, não sabia da onde havia surgido tanta coragem. Ela não estava entendo porque ainda não havia falado uma palavra com ele. Os sentimentos de ambos misturavam-se, eles sentiam-se em harmonia, os corpos juntos, os braços entrelaçados, não foi preciso muitas palavras ou explicações. Soltaram-se, ele gaguejou alguma coisa, um som que não foi possível traduzir, ela puxou seu copo de cima da mesa e tomou um grande gole de cerveja quente.
Da mesma maneira com que eles acabaram dançando os dois foram se distanciando, viraram-se de costas um para o outro, cada um seguiu seu caminho.
Ele até a porta de saída, ela foi até a janela. Ele carregava a certeza que aquela seria a mulher mais importante de sua vida, ela sabia que algumas respostas para suas angustias haviam sido encontradas naquele rapaz.
Nunca mais viram um ao outro.

Ana Ferraz

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